Livrar-se do que é supérfluo e se concentrar no que é fundamental para ter uma vida mais leve, com mais espaços na agenda e mais saúde física, mental e financeira. É o que propõe o minimalismo, um movimento que vem ganhando força nos últimos anos ao propor um estilo de vida que passa longe do consumismo, das compras por impulso, da desorganização financeira e do acúmulo de itens dentro de casa e na vida.
Os minimalistas entraram em cena com uma forte provocação: será mesmo que a gente precisa de tanta coisa? Muitos trocaram seus armários gigantes por um número reduzido de peças - os chamados armários-cápsula -, doaram móveis e objetos que não usavam e foram morar nas chamadas tiny houses, pequenas casas, de 20, 30 metros quadrados (ou até menos).
Alguns fizeram isso para conseguir trabalhar menos, outros para se dedicar ao que gostam, para morar onde desejam ou, ainda, ter mais qualidade de vida. É o caso de Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus, mais conhecidos como The Minimalists (os Minimalistas). Amigos de infância, os dois nasceram em famílias de baixa renda e construíram carreiras corporativas bem-sucedidas. Mesmo alcançando o sucesso e vivendo em casas luxuosas, perceberam que não eram verdadeiramente felizes. Resolveram, então, promover uma mudança radical em seus estilos de vida.
Joshua e Ryan compartilham essa história no documentário “Minimalismo Já” (The Minimalists: Less is Now), disponível na Netflix. Em 2016, eles já haviam lançado “Minimalismo: um documentário sobre as coisas importantes”, no mesmo serviço de streaming, que traz pessoas com diferentes perfis falando sobre suas trajetórias de vida e como passaram a viver melhor consumindo menos e acumulando menos coisas materiais.
A resposta, em vários dos depoimentos dos documentários, passa por descobrir o que é essencial e o que realmente importa nas relações humanas e sociais. Como viver com menos? Do que estou disposto a abrir mão para trabalhar menos e ter mais tempo para mim mesmo e para minha família e meus amigos? O que realmente tem valor para mim?
Essas são algumas das provocações trazidas pelos dois amigos e que caem como uma luva no final do ano, quando costumamos parar e refletir sobre o ano que está chegando. A seguir, você aprende mais sobre o minimalismo e confere algumas dicas para viver melhor com menos.
Tudo se resume a fazer boas escolhas
Possuir apenas coisas necessárias e que façam realmente sentido, para os minimalistas, é uma maneira de fugir da lógica do sistema de produção e consumo, escolhendo uma forma mais consciente e sustentável de viver.
Entre os benefícios mais comuns relatados por pessoas que adotam esse estilo de vida, o principal é não precisar fazer tanto esforço para ganhar dinheiro, podendo dedicar-se mais aos relacionamentos e às causas em que acreditam.
“Quando comecei a trabalhar eu tinha um objetivo muito claro: ganhar US$ 50 mil por ano para ser feliz. E fui atrás disso. Eu e Josh fomos trabalhar com vendas e começamos a ganhar bastante dinheiro. Mas algo deu errado. Eu não estava feliz”, relata Ryan, no documentário. “Comprei carros, eletrônicos e tinha closets cheios de roupas caras. Quanto mais eu ganhava, mais eu gastava, tudo em busca da felicidade. Isso me custou muito mais do que dinheiro. Minha vida era cheia de estresse, ansiedade e descontentamento. Chegou a um ponto que eu não sabia mais o que era importante.”
Josh, por outro lado, havia começado a olhar a vida de uma forma mais simples a partir do falecimento de sua mãe, e se tornou uma inspiração para Ryan. Eles decidiram, então, fazer um experimento: encaixotaram todos os pertences de Ryan e passaram a desencaixotar apenas o que era necessário. Depois de três semanas, 80% das coisas continuavam embaladas. Ryan começou a desapegar daquilo tudo. “Eu me senti livre pela primeira vez na vida”, relata no documentário.
A busca por uma vida minimalista pode trazer essa sensação de liberdade, indicando que possuir coisas não é sinônimo de felicidade. Mas também existe uma justificativa ambiental para essa prática. Todos os anos a Global Footprint Network calcula o Dia de Sobrecarga da Terra, data em que o planeta começa a consumir mais recursos do que consegue regenerar em um ano. Em 2022, esse dia caiu em 28 de julho. Ou seja: os hábitos de consumo da sociedade atual não são bons o planeta e os minimalistas estão atentos a isso.
Apesar de ter surgido no século XX com iniciativas de arte e cultura, o movimento minimalista foi impulsionado na era digital. Hoje há um grande número de influenciadores compartilhando seus hábitos e o que fazem para viver com pouco. Nathaly Dias, do canal Blogueira de Baixa Renda, por exemplo, produziu uma série de vídeos em que ensina a aplicar esse estilo de vida em comunidades periféricas.
Dentre suas dicas, Nathaly traz um episódio especial sobre o guarda-roupa, mostrando como desapegar de peças que não servem ou não são mais usadas e organizar o armário apenas com o necessário. Nesse processo, é possível separar itens para doação ou até mesmo para vender em um bazar ou sites de desapego, fazendo um dinheiro extra.
Mas não é apenas sobre o desapego que Nathaly fala em seus vídeos. Na série Minimalismo de Baixa Renda, ela propõe um olhar mais consciente para o consumo. “Precisamos nos alimentar e vestir, mas precisamos ter mais consciência do quanto isso afeta nosso ecossistema. Não vejo mais vantagem em comprar roupas mais baratas e de menor qualidade apenas para ter mais variedade”, diz ela.
Verificar a origem dos produtos, diminuir o descarte de embalagens, preferindo aquelas reutilizáveis, e sempre fazer listas de compras, para se manter naquilo que realmente precisa comprar, são outras dicas elencadas pela blogueira.
5 dicas para colocar o minimalismo em prática em 2023
1. Faça uma limpa no guarda-roupa a cada troca de estação
Avalie cada peça para decidir o que ainda faz sentido ser guardado e o que pode ser vendido ou doado. Que tal criar um grupo de troca de roupas, calçados e acessórios com amigos ou familiares? Desapegar é o primeiro passo para ter uma vida mais leve.
2. Planeje suas compras
Se você não saiu de casa para comprar algo específico, não compre só porque está de passagem. Promoções vão e vêm. Se você realmente precisa de alguma coisa, já faz algum tempo que está pensando nela, aí sim, é só se planejar para isso. Que tal fazer uma lista de necessidades com uma ordem de prioridade e ir ticando cada item à medida em que chegar a hora de comprar?
3. Pegue mais coisas emprestadas
Um vestido de festa, uma furadeira ou um aspirador de pó. Quantas vezes no ano você usa cada uma dessas coisas? Será mesmo que é necessário comprar um desses itens exclusivamente para você? Que tal emprestar de algum amigo ou de alguém da família? Ou mesmo criar um grupo de vizinhos interessados em comprar e compartilhar o uso de um aparador de grama ou de uma lavadora de pressão ao longo do ano, por exemplo?
4. Conserte ou reforme objetos que podem ser reaproveitados
Cadeiras, mesas e outros móveis podem ser renovados com lixa, uma demão de tinta ou pátina para ficarem novos em folha - e lindos. Caso não queira mais, podem ser doados ou vendidos a brechós e antiquários. Descartar, só quando não há mais jeito ou o conserto fica mais caro do que a compra de um item novo.
5. Escolha itens duráveis ou reutilizáveis
Opte por comprar coisas boas e que vão durar mais tempo. Ao prezar a qualidade e não a quantidade, você acumula menos coisas e deixa de perder tempo cuidando de peças que não valem a pena. Sempre que possível, escolha itens reutilizáveis, como uma ecobag, no lugar de uma sacola plástica, por exemplo.
Fonte: Meu Bolso em Dia