Analgésicos, antidepressivos, antialérgicos, relaxantes musculares, entre outros, podem comprometer a aptidão de condutores e pedestres e, assim, ocasionar acidentes
A Agência CNT de notícias começou, nessa terça-feira (13), uma série sobre doenças e medicamentos que afetam a capacidade de conduzir veículos, na esteira de recentes episódios com condutores que sofreram algum mal súbito durante a direção. Na matéria desta quarta-feira (14), destacamos especificamente a influência de medicamentos nessa prática tão corriqueira na vida das pessoas.
O Código de Trânsito Brasileiro não traz regra específica sobre o uso de medicamentos e direção de veículos. Mas, segundo a professora da Faculdade de Medicina do Tráfego da USP (Universidade de São Paulo), Vilma Leyton, a utilização de certos medicamentos tem efeitos nocivos sobre a concentração, a coordenação motora, a vigília e os reflexos.
Os efeitos podem ser semelhantes aos provocados pela ingestão de bebida alcoólica. Essa questão também abarca os pedestres, já que a falta de atenção ao atravessar uma via, por exemplo, pode causar acidentes.
Entre os medicamentos que podem interferir nas habilidades necessárias para uma direção e tráfego seguros no trânsito, estão os antidepressivos (fluoxetina, amitriptilina), ansiolíticos e sedativos (diazepam, lorazepam), antialérgicos (dexclorfeniramina), anticonvulsivantes (carbamazepina, fenobarbital), medicamentos que reduzem a glicose no sangue (glibenclamida, gliclazida), analgésicos opioides (tramadol, metadona), relaxantes musculares (ciclobenzaprina, orfenadrina) e alguns antiparasitários (praziquantel).
“Alguns deles estão entre os remédios conhecidos como ‘tarja preta’. Outros, como os antialérgicos e relaxantes musculares, podem conter, na sua composição, substâncias que podem provocar efeitos indesejados. Esses efeitos variam entre indivíduos, dependem da dose e podem ser exacerbados se associados com álcool ou outras substâncias psicoativas. Assim, é preciso ter precauções e cuidados”, explica a professora.
Recomenda-se, portanto, que as pessoas que fazem uso de medicamentos busquem sempre a orientação de farmacêuticos, incluindo quanto aos cuidados que devem adotar em relação à condução de veículos.
“Os usuários de medicamentos devem estar atentos ao que sentem após tomá-los. Se apresentarem algum sintoma que coloque em dúvida seu desempenho seguro ao volante, o recomendado é evitar dirigir. É importante frisar que nenhum tratamento deve ser interrompido sem orientação profissional”, ressalta Vilma.
A diretora da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Rita Moura, salienta que é preciso ampliar as orientações sobre os riscos que o uso de alguns medicamentos, considerados simples, pode causar. “Qualquer paciente deve ser informado sobre as reações dos remédios que estão sendo receitados. E, muitas vezes, isso não é explicado nas consultas.”
Para ela, essa sensibilidade deve partir tanto do profissional de saúde quanto do paciente, que precisa informar sobre a atividade que exerce. “O médico precisa ter o cuidado em informar, porém o motorista também precisa analisar sua situação antes de pegar o carro e dirigir.”
De acordo com a assessoria de imprensa da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), todas as informações relativas aos riscos de determinados medicamentos estão previstas na bula, mas não há uma lista fechada de medicamentos que são incompatíveis com o ato de dirigir, pois isso varia caso a caso.
Há alguns anos, a Abramet apresentou proposta de projeto de lei que obrigaria as indústrias farmacêuticas a inserirem na caixa dos remédios o símbolo de “proibido dirigir”, mas o texto não seguiu adiante no Legislativo.
Fonte: CNT - Confederação Nacional do Transporte