quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Melancolia - o que é, sintomas e tratamento

Em algum momento de nossa vidas acabamos por experimentar estados de espírito que mudam nossa postura sensivelmente. Por exemplo, quando nos tornamos ou demonstramos ser uma pessoa melancólica eventualmente. Confira o significado de melancolia e algumas características básicas desse estado mental.

O que é melancolia?

A melancolia se trata de uma etapa da tristeza mais profunda e prolongada. Nisso, é comum que o melancólico se sinta em um misto de tristeza e apatia envoltos em angústia e solidão. Tal estado foi elemento de construção para diversos romancistas e outros artistas fazerem o seu trabalho ao longo do tempo.

Esse estado de espírito é comum a qualquer pessoa, já que determinados eventos podem diminuir o nosso humor. Contudo, quando isso ultrapassa determinado ponto se mostra prejudicial, ainda que pareça algo bobo. Uma das primeiras áreas afetadas é o desempenho social, pois a vontade de se isolar pode aumentar drasticamente.

O quadro da pessoa melancólica pode durar por bastante tempo e se tornar difícil de detectar a primeiro momento. Graças a isso que muitos podem abrir mão de suas vidas pessoais e profissionais em prol desse estado de introspecção. Assim pode evoluir facilmente para um quadro depressivo e necessitar de acompanhamento profissional.

O descobrimento da melancolia

A origem da melancolia é um pouco incerta, assim como qualquer outro transtorno de humor. E para alguns especialistas, a evolução da ciência contribui para uma pesquisa maior na área e a denominação de alguns transtornos foram ocorrendo. E não foi diferente com a melancolia.

Hipócrates, conhecido como “pai da medicina”, batizou essa tristeza profunda como melancholia. O termo é a junção das duas seguintes palavras:

  • melan que significa negro;
  • cholis (bílis) sendo traduzida como “bile negra”.

Essa tristeza profunda tem como consequências a perda de apetite e de insônia. Hipócrates apontava que esse excesso de bile negra no nosso organismo, poderia causar essa tristeza e essa angústia. Ou seja, juntas elas são as características da melancolia.

Causas

A melancolia não possui ao certo um motivo tão visível ao seu surgimento e mais parece com um estágio de luto melancólico. De acordo com Freud, existe a sensação de perder alguém e mesmo não sendo verdade, lembra uma carência. Nisso, haveria um narcisismo sentimental em que o indivíduo se concentra mais em si mesmo.

Existe uma tendência para que essa pessoa deprecie a si mesma se sentindo incapaz ou inútil. Freud parecia até aborrecido em apontar que o melancólico era uma pessoa extremamente chata ao se referir à sua postura. Porém, apontou que existia uma tendência a permanecer imutável e não demonstrar iniciativa em mudar seu quadro.

Contudo, o ambiente onde estão inseridas e o círculo social podem estar colaborando para a permanência disso. Essa apatia sentida em relação ao mundo seria um bloqueio para que se evitasse mais sofrimento embora tivesse efeito contrário.

A melancolia X tristeza

Enquanto a melancolia pode ser classificada com um transtorno psíquico, a tristeza mais simples é um estado emocional comum. Isso acaba fazendo com que seja distinto da depressão, embora possa se associar à primeira vista. Existe aqui uma tristeza inexplicável, vaga e tênue, sendo desconcertante na hora de apontar a causa.

Entretanto, quando feito de forma sadia, uma fase de introspecção pode contribuir para a atenção plena. Aqui se amplia a consciência a respeito do presente, ampliando a intuição e captação emocional dos outros. Porém, se a melancolia se prolongar por tempo demais pode provocar um impacto maior na saúde física e mental.

Richard Baxter, teólogo do século XVII, afirmava que muita tristeza comprometia o raciocínio, julgamento e esperança de alguém. A medicina moderna, por sua vez, apontava a perda em sentir prazer e depressão clínica se perdurasse por muito tempo. Nisso, indicam que esse estado melancólico deva ser visto sem romantismo e como problema de saúde mental.

O Luto e Melancolia, por Freud

Na obra Luto e Melancolia de 1917 Freud defendeu que a melancolia e luto eram reações parecidas à perda. Entretanto, acabam se diferenciando quanto a viver o luto em questão onde se lida com a tristeza da perda conscientemente. Por outro lado, o estado melancólico a perda vem de algo sem identificação ou compreensão e o processo ocorre inconscientemente.

Assim sendo, o luto fica visto como um processo saudável e natural, já que existe o catalisador da perda. A fase melancólica é vista como uma doença, precisando de uma abordagem quanto a tratamento.

Características da melancolia

Em muitos aspectos a melancolia se assemelha com a depressão ou outros transtornos parecidos. Isso acaba necessitando de um olhar mais atento para se fazer um diagnóstico mais preciso e qualificado. Geralmente isso diz respeito a:

1 – Apatia

É muito difícil que algo lhe cause comoção ou mesmo permita que sinta alguma coisa, pois é característico um “bloqueio”. Há aqui um vazio e solidão que inibem uma aproximação emocional com as pessoas ou situações. Usando uma linguagem empobrecida para exemplificar, vira um zumbi emocional.

2 – Isolamento

O mundo externo não parece tão atraente de receber e merecer qualquer tipo e interação. Ainda que sua reclusão não interfira no que sente, ao menos evita com que sua energia seja gasta. O problema começa a se agravar porque se chega a uma linha tênue de depressão.

3 – Desânimo

Uma pessoa melancólica não vai se interessar muito mesmo pelas atividades mais simples que o tirem desse estado. Falta motivação e como o seu estado emocional está em declínio, não se abala por nada.

Como isso afeta a nossa vida

Embora passe despercebida por alguns, a forma como a melancolia leva alguém a viver se torna um problema. Como dito linhas acima, esse estado prolongado compromete a realização de nossos afazeres e atividades, como:

Trabalho

É difícil evoluir dentro do trabalho, pois falta um gatilho para que possa produzir satisfatoriamente. Tanto que é comum em diversos casos que seu desempenho entre em declínio e isso pode ser percebido. Se for o caso, a perda do trabalho por afastamento ou demissão não fará muita diferença ao melancólico.

Vida social

Tanto a vida em família, quanto os amigos e o mundo se torna pouco atrativa de se viver. A apatia que sente torna tudo mais vazio, desinteressante e desmotivador de se manter convivência.

Relacionamentos

A disposição em se ligar emocionalmente a alguém é comprometida por conta da limitação emocional que temos. Os melancólicos costumam se afastar sensivelmente do parceiro mesmo que sem querer e comprometer a ligação que partilham.

Tratamento da melancolia

O cuidado com a melancolia acontece com psicoterapia, um caminho para que se trabalhe a sua mente e emoções. Além de ser um meio de entender a si mesmo, pode ter mais clareza quanto as possíveis causas. Isso pode ajudar a modelar a sua postura como que um exercício para prevenir declínios e mover comportamentos negativos.

Indo além, remédios como antidepressivos podem colaborar quanto as reações e sintomas envolvidos. Eles ajudarão a controlar o seu humor, de maneira a tentar alcançar equilíbrio emocional. A partir daqui os pensamentos podem ser experimentados de modo mais sadio e menos nocivo.

Ademais, uma alimentação balanceada e rotina de exercícios podem ajudar na liberação de substâncias benéficas ao humor. Essa combinação ajudará a resgatar sua postura em relação aos prazeres da vida. Sem contar que os sintomas que sente, já que diminuem e você recupera mais controle de si.

Considerações finais sobre melancolia

A melancolia mostra o quanto somos frágeis e vulneráveis a abalos emocionais que se aprofundam continuamente. Existe uma certa oposição do melancólico em relação ao mundo, pois enquanto ele não o sente, todo o resto nota sua ausência. Isso pode significar a perda de experiências importantes ao seu desenvolvimento e maturação.

Se for necessário, busque ajuda profissional para lidar adequadamente com esse caso. Existe um perigo muito grande no aparente comodismo em se afastar de tudo, incluindo a si mesmo.


Fonte:  Psicanálise Clínica