Em algum momento de nossa vidas acabamos por experimentar estados de espírito que mudam nossa postura sensivelmente. Por exemplo, quando nos tornamos ou demonstramos ser uma pessoa melancólica eventualmente. Confira o significado de melancolia e algumas características básicas desse estado mental.
O que é melancolia?
A melancolia se trata de uma etapa da tristeza mais profunda e prolongada. Nisso, é comum que o melancólico se sinta em um misto de tristeza e apatia envoltos em angústia e solidão. Tal estado foi elemento de construção para diversos romancistas e outros artistas fazerem o seu trabalho ao longo do tempo.
Esse estado de espírito é comum a qualquer pessoa, já que determinados eventos podem diminuir o nosso humor. Contudo, quando isso ultrapassa determinado ponto se mostra prejudicial, ainda que pareça algo bobo. Uma das primeiras áreas afetadas é o desempenho social, pois a vontade de se isolar pode aumentar drasticamente.
O quadro da pessoa melancólica pode durar por bastante tempo e se tornar difícil de detectar a primeiro momento. Graças a isso que muitos podem abrir mão de suas vidas pessoais e profissionais em prol desse estado de introspecção. Assim pode evoluir facilmente para um quadro depressivo e necessitar de acompanhamento profissional.
O descobrimento da melancolia
A origem da melancolia é um pouco incerta, assim como qualquer outro transtorno de humor. E para alguns especialistas, a evolução da ciência contribui para uma pesquisa maior na área e a denominação de alguns transtornos foram ocorrendo. E não foi diferente com a melancolia.
Hipócrates, conhecido como “pai da medicina”, batizou essa tristeza profunda como melancholia. O termo é a junção das duas seguintes palavras:
- melan que significa negro;
- cholis (bílis) sendo traduzida como “bile negra”.
Essa tristeza profunda tem como consequências a perda de apetite e de insônia. Hipócrates apontava que esse excesso de bile negra no nosso organismo, poderia causar essa tristeza e essa angústia. Ou seja, juntas elas são as características da melancolia.
Causas
A melancolia não possui ao certo um motivo tão visível ao seu surgimento e mais parece com um estágio de luto melancólico. De acordo com Freud, existe a sensação de perder alguém e mesmo não sendo verdade, lembra uma carência. Nisso, haveria um narcisismo sentimental em que o indivíduo se concentra mais em si mesmo.
Existe uma tendência para que essa pessoa deprecie a si mesma se sentindo incapaz ou inútil. Freud parecia até aborrecido em apontar que o melancólico era uma pessoa extremamente chata ao se referir à sua postura. Porém, apontou que existia uma tendência a permanecer imutável e não demonstrar iniciativa em mudar seu quadro.
Contudo, o ambiente onde estão inseridas e o círculo social podem estar colaborando para a permanência disso. Essa apatia sentida em relação ao mundo seria um bloqueio para que se evitasse mais sofrimento embora tivesse efeito contrário.
A melancolia X tristeza
Enquanto a melancolia pode ser classificada com um transtorno psíquico, a tristeza mais simples é um estado emocional comum. Isso acaba fazendo com que seja distinto da depressão, embora possa se associar à primeira vista. Existe aqui uma tristeza inexplicável, vaga e tênue, sendo desconcertante na hora de apontar a causa.
Entretanto, quando feito de forma sadia, uma fase de introspecção pode contribuir para a atenção plena. Aqui se amplia a consciência a respeito do presente, ampliando a intuição e captação emocional dos outros. Porém, se a melancolia se prolongar por tempo demais pode provocar um impacto maior na saúde física e mental.
Richard Baxter, teólogo do século XVII, afirmava que muita tristeza comprometia o raciocínio, julgamento e esperança de alguém. A medicina moderna, por sua vez, apontava a perda em sentir prazer e depressão clínica se perdurasse por muito tempo. Nisso, indicam que esse estado melancólico deva ser visto sem romantismo e como problema de saúde mental.
O Luto e Melancolia, por Freud
Na obra Luto e Melancolia de 1917 Freud defendeu que a melancolia e luto eram reações parecidas à perda. Entretanto, acabam se diferenciando quanto a viver o luto em questão onde se lida com a tristeza da perda conscientemente. Por outro lado, o estado melancólico a perda vem de algo sem identificação ou compreensão e o processo ocorre inconscientemente.
Assim sendo, o luto fica visto como um processo saudável e natural, já que existe o catalisador da perda. A fase melancólica é vista como uma doença, precisando de uma abordagem quanto a tratamento.
Características da melancolia
Em muitos aspectos a melancolia se assemelha com a depressão ou outros transtornos parecidos. Isso acaba necessitando de um olhar mais atento para se fazer um diagnóstico mais preciso e qualificado. Geralmente isso diz respeito a:
1 – Apatia
É muito difícil que algo lhe cause comoção ou mesmo permita que sinta alguma coisa, pois é característico um “bloqueio”. Há aqui um vazio e solidão que inibem uma aproximação emocional com as pessoas ou situações. Usando uma linguagem empobrecida para exemplificar, vira um zumbi emocional.
2 – Isolamento
O mundo externo não parece tão atraente de receber e merecer qualquer tipo e interação. Ainda que sua reclusão não interfira no que sente, ao menos evita com que sua energia seja gasta. O problema começa a se agravar porque se chega a uma linha tênue de depressão.
3 – Desânimo
Uma pessoa melancólica não vai se interessar muito mesmo pelas atividades mais simples que o tirem desse estado. Falta motivação e como o seu estado emocional está em declínio, não se abala por nada.
Como isso afeta a nossa vida
Embora passe despercebida por alguns, a forma como a melancolia leva alguém a viver se torna um problema. Como dito linhas acima, esse estado prolongado compromete a realização de nossos afazeres e atividades, como:
Trabalho
É difícil evoluir dentro do trabalho, pois falta um gatilho para que possa produzir satisfatoriamente. Tanto que é comum em diversos casos que seu desempenho entre em declínio e isso pode ser percebido. Se for o caso, a perda do trabalho por afastamento ou demissão não fará muita diferença ao melancólico.
Vida social
Tanto a vida em família, quanto os amigos e o mundo se torna pouco atrativa de se viver. A apatia que sente torna tudo mais vazio, desinteressante e desmotivador de se manter convivência.
Relacionamentos
A disposição em se ligar emocionalmente a alguém é comprometida por conta da limitação emocional que temos. Os melancólicos costumam se afastar sensivelmente do parceiro mesmo que sem querer e comprometer a ligação que partilham.
Tratamento da melancolia
O cuidado com a melancolia acontece com psicoterapia, um caminho para que se trabalhe a sua mente e emoções. Além de ser um meio de entender a si mesmo, pode ter mais clareza quanto as possíveis causas. Isso pode ajudar a modelar a sua postura como que um exercício para prevenir declínios e mover comportamentos negativos.
Indo além, remédios como antidepressivos podem colaborar quanto as reações e sintomas envolvidos. Eles ajudarão a controlar o seu humor, de maneira a tentar alcançar equilíbrio emocional. A partir daqui os pensamentos podem ser experimentados de modo mais sadio e menos nocivo.
Ademais, uma alimentação balanceada e rotina de exercícios podem ajudar na liberação de substâncias benéficas ao humor. Essa combinação ajudará a resgatar sua postura em relação aos prazeres da vida. Sem contar que os sintomas que sente, já que diminuem e você recupera mais controle de si.
Considerações finais sobre melancolia
A melancolia mostra o quanto somos frágeis e vulneráveis a abalos emocionais que se aprofundam continuamente. Existe uma certa oposição do melancólico em relação ao mundo, pois enquanto ele não o sente, todo o resto nota sua ausência. Isso pode significar a perda de experiências importantes ao seu desenvolvimento e maturação.
Se for necessário, busque ajuda profissional para lidar adequadamente com esse caso. Existe um perigo muito grande no aparente comodismo em se afastar de tudo, incluindo a si mesmo.
Fonte: Psicanálise Clínica